sexta-feira, 9 de novembro de 2012

PADARIA ESPIRITUAL

A Padaria Espiritual (1892 - 1898) é a agremiação literária e cultural (no grupo, além de escritores, dois músicos e um pintor) mais original e irreverente que já existiu no Ceará. Fundada há 120 anos, em 30 de maio de 1892, foi idealizada por jovens intelectuais que se reuniam num quiosque da Praça do Ferreira, onde funcionava o Café Java, de propriedade de Mané Coco, com o objetivo de despertar o interesse pelas letras na província. A denominação veio de Antônio Sales, assim como também é dele a redação do “Programa de Instalação” (estatutos) do grêmio. Eram, ao todo, após a última formação, 34 padeiros (assim, se denominavam os sócios) que assinavam com pseudônimos, ou melhor, “nomes de guerra”. Dentre seus integrantes: Lívio Barreto, 
Adolfo Caminha, Rodolfo Teófilo, Álvaro Martins, Lopes Filho, Henrique Jorge, José Carlos Júnior, Antônio Bezerra, X. de Castro, José Nava, Ulisses Bezerra, Sabino Batista, Luís Sá, dentre outros. Da Padaria Espiritual nasce O Pão, órgão de imprensa da Padaria, que trazia textos dos padeiros, fossem em prosa ou poesia, além de outras curiosidades, máximas, anedotas, críticas literárias, polêmica, cartas de autores nacionais ou mesmo internacionais e que, mesmo com as dificuldades naturais da época, alcançaram repercussão nacional. A Padaria existiu durante seis anos, passando por duas fases: a primeira, de 1892 a 1894, e a segunda, de 1894 a 1898. A sua última sessão se deu em 20 de dezembro de 1898. Integram a Padaria o primeiro "padeiro-mor", Jovino Guedes (1859 - 1905), Tibúrcio de Freitas (s.d. - 1918), Ulisses Bezerra (1865 - 1920), Carlos Vítor, José de Moura Cavalcante (1965 - 1928), Raimundo Teófilo de Moura, Álvaro Martins (1868 - 1906), Lopes Filho (1868 - 1900), Temístocles Machado (1874 - 1921), Sabino Batista (1868 - 1899), José Maria Brígido (1870 - s.d.), Henrique Jorge (1872 - 1928), Lívio Barreto (1870 - 1895), Luís Sá (1845 - 1898), Joaquim Vitoriano (s.d. - 1894), Gastão de Castro, Adolfo Caminha (1867 - 1897), José dos Santos  e João Paiva, além do próprio Antonio Sales, o "primeiro forneiro". Cada um dos membros assina os textos, publicados no periódico do grupo O Pão, com pseudônimo.


Boêmios, os "padeiros" não se limitam às reuniões e à redação de suas atas,  divulgam também o grupo por meio de performances em áreas públicas, como piqueniques ou conferências. Além disso, nos textos publicados n'O Pão, os "padeiros" tratam de assuntos diversos da vida literária do Ceará e do Brasil, além de publicarem seus próprios textos, quase sempre marcados pela blague. A orientação geral do que é impresso no periódico é de um posicionamento contrário à burguesia e ao beletrismo galicista, sendo assim mais voltados para a valorização do nacional. Os membros do grupo são, em sua maioria, jovens que não participam da elite cearense, daí sua ênfase no combate à burguesia e na valorização do trabalho a partir do recurso à metáfora da linha de produção do pão, alimento para o espírito. O Pão, com a colaboração dos 20 membros pioneiros da Padaria tem, num primeiro momento, seis números editados - o primeiro em 10 de julho de 1892 e o último em cinco de dezembro do mesmo ano. A partir de então, o jornal A República se transforma no principal veículo de divulgação da produção literária e crítica dos "padeiros".
Chama a atenção, na produção da Padaria, a heterogeneidade dos textos dos membros, marcados, na poesia, tanto pelo Simbolismo quanto pelo Parnasianismo, ambos de inspiração portuguesa, diferentemente da influência francesa dessas escolas ao sul do país. Na prosa convivem um Romantismo tardio, o Realismo e o Naturalismo, por vezes orientados para o Regionalismo.
Em 1894, a Padaria é reorganizada por Antonio Sales, e formalizada no texto Retrospecto, onde o autor avalia toda a produção do grupo até ali e inaugura uma segunda fase com a expulsão de alguns membros, que fundam o Centro Literário. Temístocles Machado, Tibúrcio de Freitas e Álvaro Martins, são excluídos do grupo por traição à Padaria, criticando-a duramente no Rio de Janeiro, motivo pelo qual mais adiante são ainda expulsos Adolfo Caminha e o recém-ingresso Eduardo Sabóia. Na segunda fase são admitidos dez membros, entre os quais, Antonio de Castro (1872 - 1935), Rodolfo Teófilo (1853 - 1932) e José Nava (1876 - 1911).

O pão

Adicionar legenda
A publicação de mais destaque entre os padeiros da Padaria Espiritual não poderia ser outro: o Pão. O Pão era uma publicação literária que recebeu mais destaque dentre todos os projetos realizados pelos escritores. Era “amassado” semanalmente e ganhou identidade com pitadas de ironia e humor. O que causou uma verdadeira mudança na realidade social local, afinal, o Pão era um espaço reflexivo e de muitas ideias. Mas é bom lembrar que nem só de escritores vivia a Padaria Espiritual, a agremiação contava com pintores, músicos e desenhistas.

O padeiro e a realidade social

Além da típica analogia entre pão e literatura. A Padaria Espiritual também era um meio de criticar a burguesia. Afinal, o padeiro era parte importante da sociedade, mas sempre esteve entre as camadas mais baixas da população brasileira. E logo, os escritores estavam lá para defendê-los e, porque não dizer, homenageá-los!

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